
O diretor de futebol do Flamengo, José Boto, fez críticas ao cenário instável do futebol brasileiro, especialmente à impaciência com treinadores. Segundo ele, qualquer resultado negativo gera pressão por demissão, dificultando planos de longo prazo.
“É difícil aqui no Brasil. Qualquer mau resultado, uma derrota… Vou dar o exemplo: nós ganhamos tudo o que tínhamos para ganhar até hoje. Estamos na luta em todas as frentes e temos uma derrota na liga e uma na Libertadores. E, há duas semanas, já se falava em crise e em mudar o treinador.”
Vitórias da equipe principal sustentam mudanças estruturais
Por outro lado, Boto explicou que todos os avanços internos no clube dependem do desempenho do time principal. A pressão externa força foco imediato em resultados.
“Todas as mudanças que me foram propostas para uma maior profissionalização do clube só podem ser feitas com bons resultados do time principal. Ao mesmo tempo em que vamos promovendo mudanças desde a base até a estrutura do futebol profissional, o foco precisa estar nas vitórias do time principal. Esse é o grande objetivo neste momento.”
Alinhamento entre diretor e treinador é prioridade no Flamengo
Segundo Boto, é impossível implementar uma filosofia clara se o comando do futebol e o técnico pensam de formas distintas. Ele vê sintonia como condição básica para estabilidade e sucesso.
“Eu acho que é um princípio fundamental. Não faz sentido nenhum plano, estratégia ou filosofia de clube se não houver boa sintonia entre quem dirige o futebol e o treinador.”
“E muitas vezes o que se vê, não só no Brasil, mas em todo lugar, é diretor de futebol com um pensamento e treinador com outro. Isso dar certo é muito, muito difícil. Eu não consigo exercer minha função se o treinador não estiver alinhado comigo. E aqui no Flamengo, temos isso muito claro. O treinador tem exatamente as mesmas ideias que eu.”
Criação de um DNA dominante no estilo de jogo
José Boto também revelou que o clube trabalha para estabelecer um DNA próprio, baseado na história do Flamengo e no que o torcedor exige: um time ofensivo, que proponha o jogo.
“O presidente quer criar um DNA no Flamengo ligado à sua história: um time dominante, que quer propor o jogo, que não especula. É isso que os torcedores pedem.”
“Só faz sentido quando todos pensam da mesma forma. Quando há pensamentos diferentes, qualquer pequeno resultado vira um problema.”
Ele usou uma analogia para ilustrar como mudanças de rumo ocorrem rapidamente quando há desalinhamento.
“Eu costumo dizer isso: começamos a servir vinho bom em uma refeição, e de repente passamos para leite. Algo não está certo. É isso que se vê nos clubes — e, no Brasil, ainda mais.”
Desafio no Flamengo: ganhar e manter a ideia
Boto reconheceu que a pressão da torcida é intensa, especialmente em um clube com mais de 40 milhões de apaixonados. Mesmo assim, ele acredita ser possível implantar uma ideia clara de jogo sem ceder à instabilidade.
“Em um clube como o Flamengo, não há outra forma de pensar que não seja entrar para ganhar tudo. Não vou dizer que o Flamengo não tem dinheiro, porque vamos ter alguma verba para gastar na próxima janela.”
“Mas, como eu disse, são 40 milhões de torcedores. E eles são ativos e fervorosos. Não há outra escolha. Podemos até pensar no longo prazo, mas temos que pensar também no curto prazo.”
Perfil de jogador precisa seguir ideia fixa de futebol
Por fim, o diretor fez um alerta sobre a troca constante de perfis de jogadores, algo comum quando treinadores mudam com frequência. Para ele, a identidade do clube não pode ser alterada a cada nova comissão.
“Temos que ter bem claro qual é nossa ideia de jogo e não mudá-la diante da primeira dificuldade. É isso que faz os clubes oscilarem tanto: não sabem o que querem.”
“Hoje o perfil de jogador é um. Amanhã vem outro treinador e muda tudo. Isso é o que vamos tentar evitar aqui. Sabemos que temos que ganhar, e temos que entrar em cada jogo com a obrigação de vencer — seja qual for a competição.”