
Durante a 3ª Conferência Bola Branca, o diretor do Flamengo, José Boto, deu uma explicação direta sobre a crescente procura de técnicos portugueses no futebol brasileiro. Segundo ele, tudo começou como uma tendência, mas há razões técnicas claras por trás do sucesso.
“Eu acho que eles procuram por uma questão de moda. Deu certo. E eu tenho certeza que, se eu tiver sucesso aqui no Flamengo, se a gente fizer uma temporada vitoriosa, vai abrir as portas para outros portugueses em clubes do Brasil. Mas é moda.”
O diferencial dos técnicos portugueses
Boto argumenta que a vantagem dos treinadores portugueses está no preparo. Para ele, o estudo, a atualização constante e a abertura à troca de conhecimento criaram uma cultura diferente no futebol europeu.
“A gente tem uma cultura de trabalho e estudo que ainda não é comum no Brasil. Temos uma base tática muito forte. Isso vem do fato de Portugal nunca ter fechado as portas para técnicos estrangeiros.”
“Aprendemos com brasileiros no passado, com suecos, com treinadores da antiga Iugoslávia. E essa capacidade de absorver e criar uma identidade própria como treinador faz diferença. Porque muitos treinadores brasileiros acabaram ficando parados no tempo. Não acompanharam as novas metodologias de treino, de análise. Muita coisa mudou nos últimos 10 anos.”
Ele também faz uma crítica à falta de oportunidades para bons nomes do país:
“Isso não quer dizer que não existam treinadores competentes no Brasil. Existem, mas muitos nem têm a chance de mostrar seu trabalho.”
Clubes europeus ‘pulam’ Portugal e inflacionam mercado sul-americano
Outro ponto importante levantado por Boto foi a perda de protagonismo dos clubes portugueses no mercado da América do Sul. Segundo ele, as grandes ligas passaram a comprar diretamente do Brasil, o que prejudicou a estratégia dos times de Portugal.
“Nós, portugueses, somos responsáveis por isso. Durante muitos anos, a gente comprava aqui e revendia por muito dinheiro para as grandes ligas. Eles perceberam que, se viessem direto, pagariam menos.”
“Isso inflacionou o mercado. Hoje está mais difícil para clubes portugueses fazerem scouting por aqui. O preço subiu demais.”
Boto acredita que há alternativas em outros mercados e cita o norte da Europa como exemplo:
“Existem mercados emergentes. Os países nórdicos têm hoje uma qualidade de jogador bem diferente do que tinham 10 anos atrás. Vale a pena olhar para lá.”
Brasil ainda revela talentos, mas cenário mudou
Mesmo reconhecendo o potencial brasileiro, o diretor do Flamengo acredita que os “negócios fáceis” de antigamente estão com os dias contados.
“O Brasil é muito grande. Sempre vai ter jogador surgindo, até fora do radar das seleções de base. Ainda dá pra encontrar bons nomes. Mas aquele modelo de comprar barato aqui e vender caro depois… isso está acabando.”
Ele ainda compartilhou sua experiência no Shakhtar Donetsk:
“Lá, a gente comprava jogador antes mesmo de chegar ao time principal. Mas até esses atletas já estavam sendo vendidos a preços muito altos. E os clubes portugueses não têm essa capacidade. Por isso, olhar para a Europa faz muito sentido.”