
A eleição que oficializou Samir Xaud como novo presidente da CBF nesta sexta-feira (24) deixou claro: os clubes de elite do futebol brasileiro estão rachados com a entidade. Diferente da aclamação unânime que elegeu Ednaldo Rodrigues há dois meses, o pleito desta vez contou com esvaziamento de grandes equipes e presença reforçada de cartolas de divisões inferiores — além de familiares de dirigentes da nova cúpula.
Corpo eleitoral fragmentado
Dos 67 membros com direito a voto, apenas 46 estiveram presentes: 26 federações e 20 clubes (10 da Série A e 10 da Série B). Ou seja, 21 integrantes do colégio eleitoral se ausentaram, numa clara demonstração de insatisfação. A Federação Paulista, presidida por Reinaldo Carneiro Bastos, foi a única entidade estadual que não participou.
No grupo dos clubes da Série A, marcaram presença: Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Ceará, Cruzeiro, Grêmio, Palmeiras, Santos, Vasco e Vitória. Já entre os representantes da Série B compareceram: Amazonas, Athletic, Avaí, CRB, Criciúma, Operário, Paysandu, Remo, Vila Nova e Volta Redonda.
Manifesto dos clubes e promessas descumpridas
Mesmo com a ausência de pesos-pesados como Flamengo, Corinthians, São Paulo e Fluminense, o esvaziamento não foi total. Cruzeiro e Santos, por exemplo, haviam prometido boicote, mas acabaram presentes no pleito. Isso não significa que votaram em Samir Xaud — houve 103 dos 108 votos possíveis.
O movimento de boicote surgiu quando 29 clubes tentaram lançar Reinaldo Carneiro Bastos como candidato, mas fracassaram por falta de apoio de federações. Em resposta, 21 clubes assinaram um manifesto público se recusando a participar da eleição.
Leila Pereira contraria bloco e apoia novo presidente
A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, destoou do movimento coletivo. Ela não só compareceu, como apoiou abertamente a eleição de Xaud. A dirigente não participou sequer da reunião entre clubes que articulava um protesto.
— Eu não fui contra os clubes. Vocês viram que tudo isso que eu falei, que esses pontos, essas pautas, estavam no manifesto dos clubes. Eu concordo, porque eu não quis assinar esse manifesto. Por quê? O presidente não tinha sido eleito ainda, ele não tomou posse. Como é que eu começo com exigências? Isso não é momento de exigências, é um momento de conversar — declarou Leila.
Auditório cheio, elite ausente
Com boa parte dos clubes de elite fora, a eleição contou com personagens inusitados. Um dos presentes era um dirigente do Baré, da primeira divisão de Roraima. Outros nomes que chamaram atenção foram familiares de dirigentes recém-chegados à CBF.
Os CEOs de Botafogo e Vasco, Thairo Arruda e Carlos Amodeo, marcaram presença. O presidente vascaíno, Pedrinho, não apareceu. O Ceará também teve representantes. Já o acesso da imprensa, que pôde acompanhar a eleição anterior, foi restringido desta vez.
Vice da CBF reconhece desgaste com clubes
O novo vice-presidente da CBF, Ricardo Paul, reconheceu o desconforto e afirmou entender a posição dos clubes que optaram pelo boicote.
— Eu vim de clube, então eu entendo a posição deles. Os clubes foram muito cobrados naquela primeira reunião que foi o Unânime (eleição de Ednaldo). Teve aquela questão do presidente do Sport que foi reclamar de um pênalti. Você não votou por unanimidade? Você não pode reclamar — afirmou Paul, criticando a lógica “perversa” do processo anterior.
Ainda assim, ele aposta em uma reaproximação:
— Esse protagonismo dos clubes é algo que nós também queremos e desejamos. Então, acho que com o tempo isso vai ser normalizado.
Crise política continua aberta
Enquanto a nova direção da CBF busca legitimar seu projeto com base no diálogo, a ausência dos clubes mais representativos da elite escancara um impasse que está longe de ser resolvido. O futebol brasileiro vive um momento em que o poder das federações se impõe sobre a força esportiva e econômica dos clubes, gerando um cenário de desconfiança mútua.