
A eleição que definirá o novo presidente da CBF neste domingo (25) reacendeu o debate sobre a estrutura de poder no futebol brasileiro. Com apoio de 25 das 27 federações estaduais, Samir Xaud, presidente da Federação Roraimense de Futebol, será aclamado como novo mandatário da entidade. O processo, no entanto, está longe de agradar nomes influentes no cenário nacional — entre eles, Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo e atual deputado federal.
Bandeira critica sistema e defende mais voz para clubes
Em entrevista ao portal Lance!, Bandeira não poupou críticas ao atual modelo de eleição da CBF. Para ele, a estrutura é ultrapassada e antidemocrática, favorecendo presidentes de federações que, segundo suas palavras, são pagos pela própria CBF.
— O presidente da CBF é eleito por aquelas pessoas que ele paga todo mês. Isso tá correto? Por que os atletas não têm poder de voz e voto? E os treinadores, dirigentes e árbitros? Como acontece em outros países e até em outros esportes aqui no Brasil? — questionou.
O ex-dirigente rubro-negro ainda citou o episódio em que o ex-jogador Ronaldo cogitou se candidatar à presidência da CBF, mas acabou sendo visto como “ameaça” ao sistema vigente.
— O Ronaldo tem uma história no futebol brasileiro. O fato dele estar se oferecendo para colaborar deveria ser motivo de regozijo. Mas dois grupos rivais se uniram contra ele. Ficou evidente que está tudo errado — afirmou.
Ancelotti aprovado: “Não importa se é estrangeiro”
Apesar das críticas à estrutura política da CBF, Bandeira elogiou a escolha de Carlo Ancelotti como próximo técnico da Seleção. O italiano, atualmente no Real Madrid, assumirá o cargo após o fim da temporada europeia.
— Não tem problema nenhum ter um estrangeiro na Seleção Brasileira, como não teve quando estive no Flamengo, com Reinaldo Rueda. Depois veio o Jorge Jesus, que foi um marco. O Ancelotti é consagrado, pode fazer um excelente trabalho — avaliou.
Crítica à exclusão dos clubes: “Não adianta se unir”
Um dos pontos mais contestados por Bandeira é o desequilíbrio no peso dos votos. O colégio eleitoral da CBF é composto por 27 federações (peso 3), 20 clubes da Série A (peso 2) e 20 da Série B (peso 1). Essa configuração torna a influência dos clubes quase irrelevante.
— Então, podem ser 10, 15, 20 ou 30 clubes, juntar Série C, Série D… Não adianta nada. Quem manda são as federações. E como federação é a própria CBF, estamos falando do sistema CBF — afirmou.
Mesmo assim, ele vê com bons olhos a união recente de 20 clubes que apoiaram Reinaldo Carneiro Bastos, da Federação Paulista.
— É claro que é positivo. Todas aquelas mudanças propostas são boas. Mas eu custo a acreditar que isso vá acontecer de dentro pra fora. Tem que vir pressão externa — completou.
“Governança vergonhosa e anacrônica”
Na reta final da entrevista, Bandeira foi ainda mais direto ao descrever a governança da CBF:
— A governança do futebol brasileiro é anacrônica e irresponsável, exercida por pouquíssimas pessoas, pouquíssimas famílias que se perpetuam no poder — criticou.
Para o ex-presidente do Flamengo, os clubes — verdadeiros protagonistas do futebol brasileiro — seguem à margem das decisões:
— Mais de 80% dos clubes se juntaram e resolveram apoiar um candidato. O que aconteceu? A chapa nem foi registrada. E agora será eleito um presidente que ninguém conhece — finalizou.
A eleição da CBF acontece neste domingo (25), mesmo dia de Flamengo x Palmeiras pelo Brasileirão. A escolha, marcada por questionamentos e ausência de concorrência, deve acirrar ainda mais o debate sobre a necessidade urgente de reformas no futebol brasileiro.