
Faltando um mês para a estreia no Mundial de Clubes 2025, o Flamengo enfrenta uma batalha longe dos gramados. A diretoria rubro-negra corre contra o tempo para resolver uma questão que pode custar caro: a alta carga tributária dos Estados Unidos sobre os prêmios pagos pela Fifa. Sem um acordo de isenção fiscal, o clube pode perder até 46% da premiação prevista para a competição.
O tema foi abordado durante a reunião do Conselho Deliberativo na última quarta-feira (14). Na ocasião, Bap explicou à diretoria e aos conselheiros quais caminhos o Flamengo estuda para driblar esse prejuízo milionário e evitar que a maior competição interclubes do planeta acabe deixando um gosto amargo nos cofres do clube.
Fifa não conseguiu isenção: Fla pode sair no prejuízo
Segundo Bap, a Fifa confirmou no fim de abril que os clubes não terão o mesmo tratamento fiscal que as seleções receberam na Copa do Mundo. A entidade tentou negociar com o governo dos EUA, mas até agora não obteve sucesso. O problema se agrava pela ausência de um acordo de bitributação entre Brasil e Estados Unidos, algo que favoreceria clubes de outros países.
“Tem uma encrenca agora em relação à taxação e sobretaxação do governo americano em relação a vários países que vocês estão acompanhando e nós acreditamos que nós vamos conseguir superar isso. Passou uma semana, voltaram, notícia ruim, disseram, olha, não tem chance da gente conseguir isenção, os clubes vão ter que pagar impostos nos Estados Unidos”, declarou Bap durante a reunião.
Enquanto clubes de países que mantêm acordo de reciprocidade tributária vão receber crédito sobre os impostos pagos lá fora, Flamengo, Palmeiras, Fluminense e Botafogo sairão em desvantagem. Na prática, o valor retido nos EUA será uma perda direta — sem reembolso posterior.
Clube estuda abrir empresa nos Estados Unidos
Em busca de uma solução viável, o Flamengo contratou um advogado norte-americano especializado para traçar estratégias que reduzam a mordida do leão americano. A principal recomendação foi a criação de uma empresa do clube nos EUA, com o objetivo de registrar os atletas e receber a premiação por meio dessa entidade.
Nos Estados Unidos, empresas são tributadas a uma alíquota de 21%. Mas, conforme detalhado por Bap, a ideia é fazer com que apenas parte do valor seja tributado por lá — o restante seria enviado ao Brasil como receita de imagem ou marca, diminuindo o impacto fiscal.
“Se a gente abrir uma empresa lá e a FIFA pagar um pedaço por fora, a gente paga 21% sobre um número que é menor do que os 100% (de premiação). Talvez dê uns 15, 16% no fim das contas de impostos [sobre o total]”, estimou o dirigente.
A Fifa, inclusive, estimula essa prática. Para incentivar a criação dessas empresas, a entidade prometeu antecipar US$ 3 milhões aos clubes que optarem pela medida. O pagamento está agendado para o dia 29 de maio. Já a votação sobre a abertura da empresa será realizada no Conselho Deliberativo em 20 de maio.
Premiação do Mundial pode passar dos R$ 500 milhões
O Flamengo vai embolsar, no mínimo, US$ 15,21 milhões apenas pela participação no torneio — algo em torno de R$ 86 milhões. Cada vitória na fase de grupos garantirá mais US$ 2 milhões, e empates renderão US$ 1 milhão. Caso o Rubro-Negro chegue à final, o total pode ultrapassar US$ 102 milhões — mais de R$ 580 milhões.
Por outro lado, se os Estados Unidos aplicarem a carga máxima de 40% sobre a premiação, o Flamengo deixaria de receber cerca de R$ 34 milhões apenas na cota mínima. Isso assusta a diretoria, já que o orçamento do clube previu uma perda de até 10% com impostos. Mesmo com a abertura da empresa, a estimativa é de um impacto final em torno de 15% a 20%, o que exigirá ajustes no planejamento financeiro da temporada.
Vistos de trabalho ainda preocupam a diretoria
Além da questão fiscal, outro desafio bate à porta do clube. O advogado norte-americano alertou sobre a necessidade de vistos específicos de trabalho para atletas e comissão técnica, algo indispensável para entrar legalmente nos EUA durante o Mundial. Ao contrário de uma simples viagem de turismo, os compromissos profissionais exigem autorização formal.
O problema é o tempo: a emissão desse tipo de visto pode levar até 30 dias. Como o elenco do Flamengo viaja no dia 11 de junho e estreia no torneio em 16 de junho, o prazo está no limite. A diretoria precisará agir com agilidade para evitar contratempos logísticos às vésperas da competição mais importante do ano.