
O novo presidente da CBF, Samir Xaud, tomou posse neste domingo (26) e revelou, em seu primeiro discurso oficial, os planos para o futuro do futebol brasileiro. Entre as principais propostas está a redução das datas dos campeonatos estaduais para no máximo 11 jogos, medida que ele classificou como prioritária na nova gestão, que vai até 2029.
Calendário: prioridade será enxugar os Estaduais
Em sua fala no auditório da sede da entidade, Samir anunciou que a reorganização do calendário será feita com urgência, respeitando a qualidade técnica e a viabilidade financeira dos Estaduais. Curiosamente, houve diferença entre o discurso lido e o texto publicado no site da CBF: no palco, ele falou em 11 datas; na nota oficial, o número citado é 12.
“Nossa prioridade inicial é a adequação do calendário do futebol brasileiro. É compromisso dessa gestão implementar imediatamente mudanças significativas no calendário das competições. Assumo o compromisso de promover, entre outras medidas, a reorganização dos campeonatos estaduais para um calendário de no máximo 11 datas, sem comprometimento da qualidade e da sustentabilidade financeira dessas competições.”
Fair Play financeiro terá grupo de trabalho
Além da questão do calendário, Samir Xaud destacou que o Fair Play financeiro será tratado como tema central. Segundo ele, um grupo de trabalho será criado imediatamente dentro da CBF para debater regras de controle e transparência.
“O fair play financeiro também será uma prioridade da nossa gestão. […] A CBF irá promover um amplo debate com clubes, federações e especialistas. Nossa ideia é que seja instituído imediatamente um grupo de trabalho sobre fair play financeiro no âmbito da CBF, com o objetivo de propor as diretrizes para uma regulação moderna e adequada à realidade do futebol brasileiro.”
Criação da Liga tem apoio da nova presidência
Outra promessa feita foi o apoio à criação de uma Liga Nacional de Clubes. O projeto, que vem sendo discutido há anos sem consenso entre os clubes, ganhará novo impulso na CBF com a abertura oficial para o diálogo.
“Como dito ao longo da campanha, a criação da Liga é outro compromisso desta presidência, que tomará todas as medidas para que esse tão importante projeto de desenvolvimento do futebol brasileiro saia efetivamente do papel.”
Futebol feminino será prioridade com Copa no Brasil
Samir também reforçou o compromisso com o futebol feminino, destacando o papel histórico da vice-presidente Michelle Ramalho e projetando a Copa do Mundo Feminina de 2027, que será realizada no Brasil.
“Vamos aumentar investimentos, ampliar e valorizar as competições. […] A Copa do Mundo de 2027, aqui no Brasil, será um marco. Vamos aproveitar esse momento para alçar o futebol feminino ao lugar que ele merece: o de protagonista.”
Seleção precisa reconquistar o povo, diz Samir
Sobre a seleção brasileira masculina, o novo presidente declarou que o foco é reconstruir a conexão entre time e torcida, mais do que apenas ganhar títulos.
“Queremos que o povo brasileiro volte a se identificar com a seleção Canarinho. […] Que o Cristo Redentor abençoe a chegada e o caminho do mister Carlo Ancelotti, para que ele consiga, com nossos atletas, o tão sonhado hexacampeonato mundial.”
Quórum limitado e ausência de gigantes da Série A
A eleição que confirmou Samir Xaud como novo presidente da CBF ocorreu neste domingo (26), sob forte repercussão nos bastidores do futebol nacional. O pleito reuniu 46 votantes presenciais, sendo 26 federações estaduais e 20 clubes — divididos igualmente entre Série A e Série B do Campeonato Brasileiro. Vale lembrar que o colégio eleitoral da CBF conta com 67 membros, responsáveis por até 108 votos, somando os pesos diferenciados por categoria.
Entre as federações, apenas a Federação Paulista de Futebol, presidida por Reinaldo Carneiro Bastos, se ausentou. Já entre os clubes da elite nacional, estiveram representados: Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Ceará, Cruzeiro, Grêmio, Palmeiras, Santos, Vasco e Vitória. Pela Série B, marcaram presença Amazonas, Athletic, Avaí, CRB, Criciúma, Operário, Paysandu, Remo, Vila Nova e Volta Redonda.
Curiosamente, clubes como Santos e Cruzeiro, que anteriormente haviam sinalizado boicote ao lado de outras instituições, optaram por comparecer. Isso, no entanto, não garante que tenham votado no novo mandatário, já que a apuração registrou 103 votos válidos, dos 108 possíveis, sem detalhamento público sobre os votos de cada entidade.
Falta de protagonismo dos clubes expõe rachadura política
A votação escancarou a divisão entre os clubes, que buscavam maior protagonismo no processo eleitoral da CBF. Um bloco formado por 29 agremiações chegou a manifestar apoio ao nome de Reinaldo Carneiro Bastos como alternativa à presidência. No entanto, sem o mínimo necessário de federações estaduais subscrevendo a candidatura, ele sequer conseguiu formalizar sua chapa.
Sem Reinaldo no páreo, 21 clubes assinaram um manifesto declarando que não participariam da votação. Entre eles, gigantes como Flamengo, Fluminense, Corinthians, São Paulo, Cruzeiro e o próprio Santos, que acabou comparecendo mesmo após aderir ao movimento.
Durante a eleição, representantes como Thairo Arruda (CEO do Botafogo) e Carlos Amodeo (CEO do Vasco) estiveram presentes, embora sem a companhia dos presidentes das respectivas instituições. Outros dirigentes da Série A, como representantes do Ceará, também marcaram presença.
Auditório cheio, mas sem representatividade
Com parte relevante dos grandes clubes ausentes, o ambiente no auditório da CBF destoava de eleições anteriores. Dirigentes de menor expressão e até mesmo familiares de membros da nova cúpula da entidade ocuparam espaços estratégicos. Entre os presentes, chamou atenção a presença de um representante do Baré, equipe tradicional de Roraima, que disputa campeonatos estaduais.
A presença restrita de clubes de peso e a exclusão da imprensa da sala principal, diferentemente do que ocorreu em eleições passadas, também geraram críticas. Para muitos, o processo eleitoral simbolizou mais uma demonstração do distanciamento da CBF em relação aos reais protagonistas do futebol: os clubes e seus torcedores.