
A Justiça pode finalmente dar uma resposta concreta à maior tragédia da história do Flamengo. No último domingo (11), o Ministério Público do Rio de Janeiro protocolou, por meio da Promotoria da 36ª Vara Criminal da Capital, o pedido de condenação penal de sete acusados pelo incêndio culposo que matou dez adolescentes e feriu outros três no Ninho do Urubu, em fevereiro de 2019.
Em nota divulgada nesta segunda-feira (12), o MPRJ afirmou que o episódio, que comoveu o país e deixou marcas eternas na Nação Rubro-Negra, poderia — e deveria — ter sido evitado. E que os sete denunciados tiveram condutas diretamente ligadas à negligência que resultou no desastre.
Acusados ocupavam cargos estratégicos no CT
O Ministério Público foi categórico: “o conjunto probatório comprova plenamente a responsabilidade criminal dos denunciados que ocupavam cargos com ingerência na administração do CT”.
Foram mais de três anos de instrução criminal, com mais de 40 testemunhas ouvidas, até que a promotoria reunisse provas suficientes para apontar que os réus sabiam dos riscos e, mesmo assim, permitiram que o centro de treinamento funcionasse de forma irregular.
Veja os sete acusados que o MP quer ver condenados:
- Antonio Marcio Mongelli Garotti – Diretor financeiro do Flamengo entre 2017 e 2020
- Marcelo Maia de Sá – Diretor adjunto de patrimônio
- Claudia Pereira Rodrigues – Responsável pela assinatura dos contratos da NHJ
- Danilo da Silva Duarte – Engenheiro responsável técnico dos containers
- Fabio Hilário da Silva – Engenheiro responsável técnico dos containers
- Weslley Gimenes – Engenheiro responsável técnico dos containers
- Edson Colman – Sócio da empresa Colman Refrigeração, responsável pela manutenção dos aparelhos de ar-condicionado
CT funcionava sem alvará e com falhas nos equipamentos
Segundo o MPRJ, o Ninho do Urubu operava sem o alvará do Corpo de Bombeiros, mesmo após diversas autuações e interdições. A promotoria também apontou que a manutenção dos aparelhos de ar-condicionado era falha ou inexistente, o que gerou as irregularidades elétricas que deram origem ao incêndio naquela trágica madrugada.
Além disso, os contêineres utilizados como alojamento apresentavam riscos estruturais graves, como janelas gradeadas, portas de correr que emperraram durante o incêndio e ausência total de sistema de combate a chamas. O material usado nas estruturas também não tinha tratamento antichamas, favorecendo a propagação rápida do fogo.
Tragédia que não pode ser esquecida
O Ministério Público reforça: o incêndio não foi uma fatalidade, mas sim o resultado direto de decisões negligentes e omissões gravíssimas. “O nefasto episódio poderia e deveria ter sido evitado”, destacou a Promotoria em sua nota oficial.
A Nação Rubro-Negra jamais se esquecerá da noite em que dez jovens sonhos foram interrompidos. A dor das famílias ainda ecoa nos corredores do Ninho do Urubu e na arquibancada da torcida mais apaixonada do país. E o desejo por justiça permanece vivo.
Próximos passos na Justiça
Com o pedido formal de condenação nas mãos do Judiciário, o caso agora caminha para a fase final. Caberá ao juiz da 36ª Vara Criminal analisar as provas, os depoimentos e a argumentação do MPRJ para decidir se os réus serão ou não condenados.
Enquanto isso, a torcida observa com atenção. O clamor é claro: quem errou precisa pagar. Não há reparação possível para as vidas perdidas, mas a punição dos responsáveis pode, ao menos, representar um passo rumo à justiça e à memória dos Garotos do Ninho.