
O ex-presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, se manifestou publicamente após ser retirado da denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) sobre o trágico incêndio no Ninho do Urubu, ocorrido em fevereiro de 2019. O caso, que resultou na morte de dez jovens das categorias de base do clube, segue em julgamento, mas o ex-dirigente foi excluído do processo devido à prescrição legal.
Mesmo fora da ação judicial, Bandeira afirmou não ter gostado da exclusão e criticou duramente a forma como a investigação foi conduzida.
Exclusão por idade causa indignação em ex-presidente
A legislação brasileira determina que a prescrição da pena cai pela metade quando o réu tem 70 anos ou mais no momento da sentença. Como Bandeira completou 72 anos em março, a punição prevista já ultrapassava o tempo limite, o que motivou sua exclusão da denúncia.
Apesar disso, o ex-mandatário rubro-negro afirmou ao jornal Lance! que estava confiante em uma absolvição judicial e que a exclusão o impediu de provar sua inocência.
“É um assunto que ainda vai ser debatido por um bom tempo, mas a verdade é que não fiquei nada feliz por ter sido excluído. Estava tudo se encaminhando para a minha absolvição e para o reconhecimento de que houve uma investigação covarde e irresponsável contra mim. Durante o processo, isso ficou bem claro, mas a promotoria decidiu empurrar com a barriga, esperar o prazo, e eu acabei saindo,” declarou.
Denúncia atinge outros oito envolvidos
O Ministério Público denunciou oito pessoas por envolvimento na tragédia, com base nos artigos 250 (incêndio culposo) e 258 (crime doloso de perigo comum) do Código Penal. As penas máximas previstas são de quatro e três anos de reclusão, respectivamente. Porém, com a exclusão de Bandeira, o número de réus foi reduzido.
Bandeira afirma que base já havia deixado o Ninho
Durante a entrevista, o ex-presidente também alegou que, no fim de sua gestão, os jovens da base já não estavam mais dormindo nas instalações do Ninho do Urubu. Ele questionou por que eles teriam retornado ao local dias antes da tragédia.
“Não diria que é uma fatalidade, mas é fundamental que vocês analisem o que aconteceu durante a instrução do processo. Vocês vão perceber que os atletas da base do Flamengo já não estavam mais nas instalações do clube, isso é um fato comprovado, e ninguém sabe por que eles voltaram. E, para piorar, houve um princípio de incêndio dois dias antes, e aparentemente ninguém sabe que medidas foram tomadas,” afirmou.
Suspeitas sobre atuação policial também são levantadas
O ex-dirigente ainda apontou supostas irregularidades na atuação de um delegado durante a investigação. Segundo ele, o delegado responsável teria um parente ligado ao Flamengo, fato que, segundo Bandeira, interferiu nos desdobramentos do inquérito.
“Houve o depoimento do delegado, que admitiu ter um parente dentro do Flamengo, e ele ouviu esse parente, mas não registrou nada nos autos. Esse parente, uma semana depois, foi nomeado para um cargo altíssimo, algo que ele nunca tinha ocupado antes. Ou seja, uma série de coincidências que explicam muita coisa,” disparou.
Infrações durante a gestão são citadas no processo
Apesar da defesa de Bandeira, documentos do processo mostram que, nos dois últimos anos de sua gestão, o Flamengo recebeu cinco multas por irregularidades na estrutura dos contêineres usados para alojar os jovens da base. Após a interdição determinada por edital em 2017, o clube seguiu utilizando o local sem alvará, acumulando quase 30 autos de infração, de acordo com a Prefeitura do Rio de Janeiro na época do incêndio.
As famílias das vítimas seguem em busca de justiça, enquanto o processo judicial continua em curso com os demais réus. A polêmica sobre a exclusão de Bandeira, no entanto, deve seguir repercutindo por muito tempo dentro e fora do clube.