
O Flamengo não quer apenas disputar o Mundial de Clubes. O objetivo é mostrar que também evoluiu fora das quatro linhas, especialmente na ciência do esporte. Quem garante isso é Cláudio Pavanelli, coordenador científico do clube, que voltou ao Rubro-Negro após nove anos nos Estados Unidos, onde se especializou no que há de mais avançado no mundo em medicina esportiva e performance.
Pavanelli foi o primeiro integrante da delegação rubro-negra a desembarcar nos Estados Unidos, 20 dias antes do restante do grupo, justamente para participar de um dos maiores congressos de medicina esportiva do planeta, realizado pelo Colégio Americano de Medicina do Esporte.
Flamengo não deve nada à Europa
Na visão do especialista, o Flamengo hoje tem um dos departamentos mais modernos do mundo, no mesmo nível dos clubes europeus.
— Estou nos Estados Unidos há mais de nove anos. Minha volta ao clube é para coordenar toda a ciência do esporte, abrangendo futebol, categorias de base, o futebol feminino e os esportes olímpicos. O objetivo é criar uma organização que una todas as categorias, estabelecendo uma linha metodológica clara. A informação é o que realmente importa, não a ciência em si. Precisamos aplicar e disseminar essa informação em todos os departamentos, para que cada um possa utilizá-la da melhor maneira possível. Qualquer dado coletado será compartilhado, e cada departamento poderá usá-lo para aprimorar seu conhecimento. Essa é a grande diferença: a conexão entre as áreas relacionadas à performance, prevenção e reabilitação, permitindo que cada um aplique sua especialidade. O conceito é melhorar as técnicas de cada departamento, tornando essa conexão mais rápida e eficiente. Essa é a verdadeira evolução. Posso afirmar que nossa área de ciência do esporte não fica a dever nada a nenhum lugar da Europa ou dos Estados Unidos, afirmou em entrevista ao Extra.
Pavanelli destacou que, mais do que ter acesso aos melhores equipamentos, a diferença está no conhecimento e na capacidade dos profissionais.
— Atualmente, simplesmente comprar o equipamento não é suficiente para atualizar um departamento. Isso não garante que será utilizado em sua máxima capacidade. O conhecimento do profissional é o que realmente faz a diferença, garantindo que o equipamento tenha um uso efetivo e esteja sempre atualizado. A evolução depende dos profissionais, e não o contrário. É a necessidade e o conhecimento do profissional que impulsionam a demanda por novas tecnologias, completou.
Revolução no Ninho do Urubu
De volta ao clube, Cláudio Pavanelli assumiu como “Head of Sports Science” do Departamento de Saúde e Alto Rendimento. O objetivo é implementar uma gestão científica que envolva não só o profissional, mas também a base, o futebol feminino e até os esportes olímpicos do clube.
— É fundamental que essa informação chegue a todos os departamentos, para que cada um possa utilizá-la da melhor maneira possível. Todas as informações coletadas são compartilhadas, e cada setor vai aplicar seu conhecimento da melhor forma. Essa é a grande diferença: a conexão entre as áreas que lidam com performance, prevenção e reabilitação. O objetivo é que cada especialidade seja aplicada de forma eficaz. O conceito aqui é aprimorar as técnicas de cada departamento, tornando essa conexão mais ágil e eficiente. Essa é a verdadeira evolução, explicou.
Como o Flamengo equilibra minutagem e lesões
O coordenador admitiu que, com o calendário do futebol brasileiro, é impossível não ter lesões. Mas o foco total do clube é fazer com que as recuperações sejam mais rápidas e o impacto na temporada seja o menor possível.
— Quando se fala em alta intensidade, é quase uma ilusão achar que não haverá lesões, especialmente com a frequência dos jogos. A única maneira de evitar lesões é não jogar. Precisamos entender a individualidade de cada atleta: quanto eles se esforçam, como se recuperam e quais ferramentas podem ajudar nessa recuperação. Entre os jogos e as lesões, há atletas que se desgastam muito e se recuperam rapidamente, enquanto outros podem se desgastar muito e demorar para se recuperar. Também existem aqueles que se esforçam pouco e se recuperam rápido, e outros que se esforçam pouco e demoram para se recuperar. Tudo isso está ligado à realidade e ao momento de cada atleta. Se o descanso é insuficiente ou a alimentação não é adequada, isso se torna um fator multifatorial que precisa ser considerado. Além de estarem em um nível superior em comparação a anos anteriores, conseguimos, quando necessário, uma recuperação mais rápida para o retorno. Esse aspecto é uma prova prática da importância de todas as áreas e suas especializações, cada uma trazendo uma visão diferente para um objetivo comum. Seja na recuperação pós-lesão, entre jogos ou na evolução da performance, todas as áreas, da psicologia à nutrição, têm o mesmo objetivo: um tempo para se recuperar e outro para evoluir na performance, explicou.
Flamengo quer mais intensidade, menos lesões
Pavanelli revelou que o trabalho implantado nos últimos meses já mostra resultados concretos. Jogadores que antes tinham dificuldade em manter uma sequência saudável agora participam de mais jogos, com maior intensidade, e com menor risco de lesão.
— A gente fez algumas mudanças nos processos e alterou bastante o dia a dia dos atletas. E é bem fácil perceber as mudanças quando olhamos para os números. Agora, temos uma participação maior de grandes jogadores que antes não estavam jogando tanto. Além de estarem jogando mais, eles estão mostrando intensidade e têm um papel fundamental nos jogos, que estão acontecendo com mais frequência. O nosso objetivo é que toda a comissão técnica consiga contar com o maior número possível de atletas em um bom nível de condicionamento, para que possamos usar a melhor estratégia. Queremos ter o maior número de atletas prontos para jogar em mais partidas. A equipe multidisciplinar está focada nisso. Estamos buscando ter mais atletas com um bom nível de condicionamento físico individual, para que possam ser utilizados em quantos mais jogos melhor, e isso tem sido mais eficaz do que nos anos anteriores, destacou.
Ciência aplicada para o Mundial e para a temporada
Com uma temporada que exige muito fisicamente, especialmente com o acúmulo de jogos — o Flamengo é o time do Mundial com mais partidas nos últimos 12 meses —, o clube vê no trabalho científico um dos pilares para competir de igual para igual com os gigantes europeus.
O Mundial de Clubes, que começa para o Mengão nesta segunda-feira (16), será também uma vitrine para mostrar que, além de craques, o Flamengo tem estrutura de primeiro mundo.