
O futebol brasileiro continua preso a um modelo financeiro frágil e altamente dependente da venda de jogadores. Essa foi a principal conclusão do Relatório Convocados, elaborado pelas consultorias Galapagos Capital e Outfield, divulgado nesta semana. A análise apontou que a maioria dos clubes da Série A encerrou 2024 no vermelho quando se observa o EBITDA recorrente, ou seja, a geração de caixa operacional sem contar receitas com transferências ou eventos extraordinários.
Entre os 20 clubes avaliados, apenas oito apresentaram EBITDA recorrente positivo. E quem lidera a lista com folga é o Flamengo, com impressionantes R$ 232 milhões gerados apenas com sua operação estrutural, sem depender da venda de atletas.
Flamengo lidera folgado; rivais patinam
O Rubro-Negro provou mais uma vez que possui o modelo mais sustentável do país. Com base sólida de receitas recorrentes — como bilheteria, patrocínios, sócio-torcedor, direitos de TV e licenciamento — o clube foi o único a atingir a casa dos R$ 200 milhões em EBITDA recorrente.
Confira os destaques da geração de caixa:
- Flamengo: R$ 308 milhões (total) | R$ 232 milhões (recorrente)
- Corinthians: R$ 338 milhões | R$ 71 milhões
- RB Bragantino: R$ 163 milhões | R$ 41 milhões
- Vitória: R$ 13 milhões (recorrente)
- Palmeiras: R$ 475 milhões (total) | R$ -29 milhões (recorrente)
O número do Palmeiras chama a atenção: apesar de liderar em geração total com R$ 475 milhões, o clube apresentou déficit de R$ 29 milhões no resultado recorrente, evidenciando que as vendas de jogadores foram determinantes para o superávit.
Clubes grandes operam com prejuízo recorrente
A realidade de boa parte da Série A é preocupante. Clubes como Internacional (-R$ 90 mi), Fluminense (-R$ 145 mi) e Atlético-MG (-R$ 7 mi) operaram com prejuízo mesmo tendo receitas totais relevantes. A situação mais crítica é a do Bahia, com R$ -66 milhões de EBITDA total e R$ -101 milhões de recorrente — o pior desempenho do ranking.
Outros casos alarmantes:
- Fortaleza: R$ -28 milhões (total) | R$ -31 milhões (recorrente)
- Athletico-PR: R$ 149 milhões (total) | R$ -60 milhões (recorrente)
O estudo escancara uma verdade incômoda: sem a venda de atletas, a maioria dos clubes fecha no vermelho. A operação esportiva por si só não cobre os custos — o que demonstra dependência crônica de receitas não recorrentes.
Venda de jogadores: base frágil de sustentação
A análise mostra que a base de sustentação financeira do futebol brasileiro ainda está amparada, principalmente, em transferências. Segundo o relatório, os clubes só conseguem fechar no azul graças à venda de atletas formados ou adquiridos com esse propósito.
Sem essas receitas extraordinárias, muitos encerrariam o ano com déficits ainda maiores. Esse modelo, apesar de recorrente, é altamente instável e reforça a necessidade de um novo padrão de gestão focado no crescimento sustentável da receita recorrente.
O que é EBITDA e por que importa no futebol
EBITDA é a sigla para “Lucros antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização”. No futebol, é a métrica que mede a capacidade de geração de caixa pura da operação do clube — sem depender de venda de ativos.
O relatório dividiu os dados em dois blocos:
- EBITDA Total: inclui todas as receitas, inclusive vendas de atletas
- EBITDA Recorrente: considera apenas o resultado da operação esportiva
No cenário brasileiro, o total costuma inflar artificialmente os balanços, já que depende de transações imprevisíveis. O recorrente, por outro lado, mostra quem realmente consegue se manter apenas com a estrutura que possui.
Flamengo dá exemplo de gestão sustentável
Enquanto os rivais apostam em vendas para equilibrar o caixa, o Flamengo se destaca como exceção. Com receitas diversificadas, presença constante nas fases finais de torneios e projetos estruturados, o clube mostra força não apenas dentro de campo, mas também nos bastidores financeiros.
Esse desempenho confirma o que a Nação já sabe: o Mais Querido é referência. E, se continuar nesse ritmo, seguirá dando aula de como se administra um gigante do futebol mundial.