
O Flamengo e o Fluminense seguem de olho na maior negociação de naming rights da história do futebol brasileiro. A dupla Fla-Flu, responsável pela gestão do Maracanã pelos próximos 20 anos, autorizou sua equipe comercial a ir ao mercado em busca de interessados na compra do nome do estádio. A meta: fechar um contrato de ao menos R$ 40 milhões por ano.
No entanto, o projeto enfrenta um entrave político e jurídico. O governador Cláudio Castro afirmou nesta quinta-feira (6) que ainda não há posicionamento oficial do Estado sobre a permissão de venda dos naming rights do estádio, tombado como patrimônio histórico.
Governador demonstra ceticismo e cobra formalização
Durante um evento na Lagoa Rodrigo de Freitas, em comemoração à ida dos clubes cariocas à Copa do Mundo de Clubes da FIFA, Cláudio Castro foi questionado sobre o tema e deixou claro que não houve qualquer comunicação oficial por parte do consórcio Fla-Flu.
— Até agora não teve conversa alguma. Não obtive resposta, mas já pedi um estudo do edital para ver se isso é possível. Fiquei sabendo pela imprensa. Até agora os clubes não formalizaram. Eu vejo com um pouco de ceticismo e dificuldade pelo fato de o Maracanã ser todo tombado. Tem que ver na legislação — afirmou.
Apesar da cautela, o governador ressaltou que o “diálogo está 100% aberto”.
Negócio milionário em análise
Caso concretizada, a venda dos naming rights do Maracanã superaria qualquer contrato similar vigente no Brasil. Para efeito de comparação, o acordo mais valioso atualmente é o da Mercado Livre Arena Pacaembu, que gira em torno de R$ 33,3 milhões por ano.
O projeto atual prevê um valor estimado de R$ 40 milhões anuais, podendo alcançar a marca de R$ 800 milhões ao longo das duas décadas de concessão. Isso colocaria o estádio carioca no topo da lista nacional de naming rights, superando Allianz Parque, Neo Química Arena, Morumbis e Arena Fonte Nova.
Fla-Flu ainda estuda a proposta e não consultou o Estado
Mesmo com as primeiras sondagens ao mercado iniciadas, a diretoria do Flamengo — que detém 65% do consórcio — ainda não formalizou nenhuma solicitação ao Governo do Estado. O clube estuda os impactos legais e culturais da iniciativa antes de avançar oficialmente.
Internamente, há otimismo. Fontes ligadas ao projeto revelam que não houve nenhum veto informal por parte do governo e que o tema já foi ventilado desde o ano passado, embora nunca tenha havido um pedido concreto.
Edital não prevê, mas também não veda
No plano de negócios entregue à licitação, o Consórcio Fla-Flu sequer mencionou a possibilidade de venda de naming rights. O edital abordava como “receitas ordinárias” apenas eventos esportivos, aluguel de camarotes, locação de restaurantes, visitas guiadas, entre outros. Os naming rights se enquadrariam como “receitas extraordinárias”.
Curiosamente, a proposta derrotada do Vasco, formulada com apoio da WTorre e da 777 Partners, já previa a negociação do nome do estádio. À época, os vascaínos projetavam um valor mais modesto: R$ 10 milhões por ano.
IPHAN autoriza, mas exige respeito ao tombamento
Em consulta feita pelo ge, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) confirmou que é possível comercializar os naming rights do estádio. No entanto, o nome oficial “Estádio Jornalista Mário Filho” deve ser mantido.
Mais do que isso, o Iphan deixou claro que qualquer alteração na fachada precisa de aprovação prévia conforme determina o Decreto-Lei nº 25/1937, que rege os bens tombados.
Outros exemplos no Brasil
Casos semelhantes já ocorreram no país. No Pacaembu, por exemplo, o edital previa que a marca patrocinadora poderia ser agregada ao nome original. O modelo seguiu o exemplo da Fonte Nova, renomeada como “Itaipava Arena Fonte Nova” após concessão estadual.
Confira abaixo os maiores contratos de naming rights atualmente no Brasil:
- Mercado Livre Arena Pacaembu – R$ 1 bilhão por 30 anos (R$ 33,3 milhões/ano)
- Morumbis (SPFC) – R$ 75 milhões por 3 anos (R$ 25 milhões/ano)
- Allianz Parque (Palmeiras) – R$ 300 milhões por 20 anos (R$ 15 milhões/ano)
- Neo Química Arena (Corinthians) – R$ 300 milhões por 20 anos (R$ 15 milhões/ano)
- Vila Viva Sorte Arena (Santos) – R$ 150 milhões por 10 anos (R$ 15 milhões/ano)
- Ligga Arena (Athletico-PR) – R$ 200 milhões por 15 anos (R$ 13,3 milhões/ano)
- Casa de Apostas Arena Fonte Nova – R$ 52 milhões por 4 anos (R$ 13 milhões/ano)
- Arena MRV (Atlético-MG) – R$ 71,8 milhões por 10 anos
- Arena BRB Mané Garrincha – R$ 7,5 milhões por 3 anos (R$ 2,5 milhões/ano)
- Arena Nicnet (Botafogo-SP) – R$ 6 milhões por 5 anos (R$ 1,2 milhão/ano)