
O Flamengo mantém a liderança entre os clubes mais ricos do Brasil, mas o ano de 2024 expôs uma queda preocupante em áreas que sempre foram vitais para seu equilíbrio financeiro. Segundo o relatório Convocados Galapagos Outfield 2025, a receita total do Rubro-Negro caiu pela primeira vez desde 2020, puxada principalmente pela drástica redução no valor arrecadado com transferências de jogadores.
Receita total recua e acende sinal de alerta
Em 2023, o Flamengo fechou o ano com impressionantes R$ 1,413 bilhão em receitas totais. Já em 2024, esse número caiu para R$ 1,287 bilhão — uma redução de 9%. Mesmo assim, o clube segue isolado na ponta do ranking nacional de arrecadação, mantendo-se como o único a ultrapassar a casa de R$ 1,2 bilhão no futebol brasileiro.
Essa queda contrasta com o crescimento observado em clubes como Palmeiras (+31%) e Corinthians (+14%), que se aproximaram dos R$ 1,1 bilhão. Ainda assim, nenhum deles conseguiu ultrapassar o Rubro-Negro.
O relatório aponta: “As receitas por clube estão separadas em blocos, com destaque para o ‘grupo do bilhão’. Há um segundo bloco, dos clubes que faturaram acima de R$ 600 milhões, mas não atingiram o bilhão”.
Venda de jogadores despenca 74% em um ano
A maior responsável pela perda de receita em 2024 foi a queda brusca nas transferências de atletas. Em 2023, o Flamengo arrecadou R$ 291 milhões vendendo jogadores. Já em 2024, esse número caiu para apenas R$ 76 milhões — uma redução de 74%, ou R$ 215 milhões a menos.
De acordo com o relatório: “Na direção oposta vimos o Flamengo com redução de 74% em relação a 2023. Estratégico ou força de mercado, mas foram R$ 215 milhões a menos nas receitas em 2024. Valor acima das 4 menores receitas do ano passado”.
Essa retração levanta questões: foi uma escolha intencional da diretoria, focando em manter o elenco mais competitivo, ou o clube perdeu a capacidade de formar e negociar talentos de alto valor? De qualquer forma, o impacto nas finanças é evidente.
Modelo estável: 94% da receita é recorrente
Apesar da queda nas transferências, o Flamengo apresentou o maior índice de estabilidade financeira entre todos os clubes da Série A. Em 2024, 94% da sua receita foi considerada recorrente — ou seja, oriunda de fontes como direitos de transmissão, patrocínio, bilheteria e sócio-torcedor.
O relatório destaca: “Aqui o Flamengo segue sendo o único bilionário, o que mostra sua força em relação aos demais”. Essa força não vem de um único pilar, mas da combinação de receitas diversificadas e constantes.
Comparando com outros clubes, o Corinthians aparece com 76% de receita recorrente, o São Paulo com 87% e o Palmeiras com apenas 55%. Isso significa que, enquanto rivais ainda dependem de vendas pontuais de jogadores ou eventos específicos, o Flamengo caminha com uma base financeira sólida e previsível.
Estratégia ou acomodação do Flamengo?
A estrutura robusta de receitas recorrentes mostra que o clube tem musculatura para suportar eventuais quedas, mas o cenário de 2024 acende um alerta. O modelo que vinha combinando alto investimento com alto retorno em transferências parece ter desacelerado — e isso impactou diretamente no caixa.
A redução no ritmo das vendas pode ser estratégica, buscando manter um elenco forte para disputar títulos. Mas também pode refletir uma dificuldade de gerar novos ativos valorizados no mercado, seja pela estagnação nas categorias de base ou pela queda no desempenho de jogadores negociáveis.
O momento exige equilíbrio. Ter a maior receita do país e a estrutura mais estável é um trunfo. No entanto, manter essa hegemonia exige capacidade de gerar caixa com eficiência — algo que, em 2024, ficou aquém do esperado.
Conclusão: a conta precisa fechar
O Flamengo continua sendo referência de gestão no Brasil, mas os números de 2024 mostram que até o líder precisa se reinventar constantemente. A queda na receita total e nas transferências não comprometeu o clube — graças à sua estrutura sólida —, mas evidencia a importância de retomar estratégias que gerem valor dentro e fora de campo.
O alerta está dado. Para seguir no topo, o Flamengo precisa transformar sua estabilidade em crescimento. E isso passa, novamente, por reforçar sua capacidade de formar, valorizar e negociar seus talentos.