
Flamengo vive uma novela interminável envolvendo o futuro de Gerson. Desde o início do ano, o estafe do jogador acena com propostas e pressiona nos bastidores. Agora, com o Zenit novamente à espreita, o desfecho parece – repita-se, parece – estar próximo. E isso mexe com toda a estrutura esportiva e emocional do clube para a sequência da temporada.
Desafio da nova diretoria: segurar o Coringa
A permanência ou não de Gerson virou o maior teste para o diretor de futebol José Boto desde sua chegada. O camisa 8 não é apenas titular: é símbolo técnico, capitão e termômetro do time. Além disso, é peça-chave na engrenagem de Filipe Luís, atuando em mais de uma função quando necessário.
No início de 2024, Gerson e seu pai, Marcão, iniciaram pressão por valorização, amparados por supostas sondagens do Zenit. O Flamengo, até hoje, não recebeu nenhuma proposta oficial – apenas especulações com cifras entre 18 e 28 milhões de euros.
Renovação com aumento e… armadilha
Em abril, a diretoria cedeu: ofereceu aumento salarial superior a 50% e renovou o contrato de Gerson até 2030. No entanto, a nova cláusula estipulava multa de “apenas” 25 milhões de euros, valor consideravelmente mais baixo que os 200 milhões anteriores.
Embora o salário ficasse compatível com os maiores vencimentos do elenco, a redução da multa virou risco. O Zenit agora tem em mãos a chance de levar o jogador à vista, sem margem de negociação. E o clube russo já deixou claro que pretende fazer isso na próxima janela.
Postura criticada nos bastidores
Internamente, o incômodo é evidente. Muitos veem a conduta de Gerson e seu pai como oportunista. Segundo o jornalista Mauro Cezar, essa não é a primeira vez que a dupla pressiona por saídas – o mesmo ocorreu nas duas transferências anteriores para o Flamengo.
Mesmo assim, a mudança na multa foi sugerida pela própria diretoria, que entendeu o valor como mais “adequado” ao salário. Agora, porém, abre-se precedente perigoso: outros atletas também podem pedir redução de cláusulas em renovações, como já aconteceu com Pulgar.
Zenit avança, mas sem contato formal
Pessoas envolvidas nas tratativas acreditam que o Zenit vai pagar os 25 milhões de euros e que Gerson aceitará. Mas até o momento, nenhum representante do clube russo fez contato oficial com o Flamengo.
Caso a negociação avance, a saída aconteceria em julho, o que significa menos tempo para buscar reposição, além de afetar diretamente o planejamento da equipe em meio ao Mundial de Clubes, nos Estados Unidos.
Perder Gerson: quanto custa além do dinheiro?
É inegável que 25 milhões de euros por um jogador de 28 anos, que já teve duas passagens pela Europa, pode ser um bom negócio. Mas a pergunta que o torcedor se faz é outra: qual será o custo esportivo dessa perda?
Gerson atua como Coringa. Ele ocupa duas ou até três funções em campo, cobre desfalques, lidera e dita o ritmo. Sua saída obriga o clube a buscar um substituto com características semelhantes – algo raro no mercado – ou, em última instância, mudar o modelo de jogo. Talvez até mais de um reforço seja necessário.
Fora das quatro linhas, a questão da liderança também entra em jogo. Um elenco vencedor precisa de referências internas. E o camisa 8 é, hoje, uma das principais.
Risco de efeito cascata
Se Gerson sair e outros jogadores decidirem renegociar cláusulas ou tentar forçar saídas, o Flamengo corre risco de criar um precedente nocivo. Isso fragilizaria o poder de decisão da diretoria em negociações futuras.
Além disso, com o clube liderando o Brasileirão, qualquer desequilíbrio emocional pode comprometer a temporada. José Boto e Filipe Luís precisarão agir rápido, com inteligência e frieza.
Decisão nas mãos do jogador
No fim das contas, o desfecho depende unicamente de Gerson. Ele terá que escolher entre um alto salário na Rússia e a continuidade de um projeto esportivo em um dos clubes mais estáveis do país.
Carlo Ancelotti, técnico da Seleção Brasileira, já avisou que continuará observando Gerson no Campeonato Russo. Mas basta lembrar o caso de Luiz Henrique, que sumiu do radar da seleção após ir para lá.
A decisão de Gerson, portanto, envolve mais do que dinheiro. Envolve legado, protagonismo, idolatria e, talvez, sua última chance de jogar uma Copa do Mundo. A Nação aguarda.