
O presidente do São Paulo, Julio Casares, reacendeu o debate sobre a transformação dos clubes em SAF (Sociedade Anônima do Futebol) e questionou diretamente a efetividade desse modelo no futebol brasileiro. Em entrevista ao jornalista Alt Tabet, do UOL, o dirigente expôs sua visão sobre o tema e fez comparações com clubes como Bahia, Palmeiras e Flamengo — todos com realidades administrativas distintas.
Segundo Casares, o São Paulo precisa considerar um modelo empresarial para não perder espaço no cenário nacional, embora admita que a SAF não seja solução milagrosa. O presidente também fez críticas à condução de clubes que já adotaram o novo formato societário, com destaque para o Bahia, controlado pelo Grupo City.
Casares questiona comparação com SAFs e cita Flamengo e Palmeiras
Durante a entrevista, o presidente são-paulino rebateu o argumento comum de que a SAF é um passo obrigatório para modernizar o clube. Ele defendeu que, antes de discutir mudanças de estrutura, é necessário observar os rivais que já alcançaram o topo sem abrir mão do modelo associativo.
“O São Paulo vai ficar para trás de quem? De clubes que não são SAF: Palmeiras e Flamengo. Eu tenho que ser SAF para não ficar para trás de clubes que não são SAF? Por que ele, como presidente, não se esforça para colocar o São Paulo no patamar de Palmeiras e Flamengo, que não são SAF?”
Crítica ao Grupo City e ao modelo do Bahia
Casares também usou o exemplo do Bahia para ilustrar os riscos de depender de investidores estrangeiros. Segundo ele, o Grupo City pode priorizar outros mercados a qualquer momento, deixando o clube brasileiro em segundo plano.
“O Bahia pertence ao Grupo City. Se o Grupo City decide que não vai mais investir no Brasil, o Bahia vai ser um time para ficar na Série A e está bom. Não vão fazer investimentos. […] Qual é o clube vencedor do Grupo City? Esse ano nem o Manchester City foi. Nenhum deles é. São clubes satélites que servem para revelar jogadores, fazer negócios.”
SAF não é milagre, mas modelo empresarial é necessário, diz Casares
Mesmo com críticas ao modelo vigente em alguns clubes, Casares reconheceu que o São Paulo precisará adotar práticas empresariais em algum momento. Para ele, a estrutura atual precisa evoluir para que o clube se mantenha competitivo diante do crescimento financeiro dos principais rivais.
“A SAF não é um milagre, mas acredito que o melhor modelo é algo que priorize a gestão do futebol. Não posso dizer que o SPFC vai virar uma SAF pura, mas é uma tendência que se o SPFC não tiver algum acordo empresarial, ele vai competir menos. Os clubes, mesmo os que não admitem SAF, e o SPFC tem essa resistência, tem que pensar no modelo empresarial se não vai ficar para trás.”
Mauro Cezar rebate: Flamengo saiu do buraco sem SAF
Após a entrevista, o jornalista Mauro Cezar Pereira também comentou o tema no UOL News Esporte. Para ele, virar SAF não garante sucesso esportivo — e o histórico recente de clubes tradicionais comprova isso.
“Ser SAF, mesmo o Bahia, não é garantia de que vai ser campeão. […] O Ceará saiu do buraco, o Palmeiras saiu do buraco, o Flamengo saiu do buraco, e o São Paulo, que também é enorme, tem que virar SAF?”
Flamengo é exemplo de gestão sem vender controle
Hoje, o Flamengo é o clube mais valioso e autossustentável do país. Em 2024, liderou o EBITDA recorrente no futebol brasileiro com R$ 232 milhões, de acordo com estudo da Galapagos Capital e Outfield — tudo isso sem depender de venda de jogadores ou investidores estrangeiros. O Rubro-Negro se consolidou como exemplo de que boa gestão, sem SAF, pode render títulos, caixa e protagonismo internacional.
Portanto, o debate segue quente: mudar o modelo ou mudar a mentalidade? O Flamengo responde na prática — e com taça na mão.